domingo, 26 de fevereiro de 2012

As três árvores

Havia, no alto da montanha,
três pequenas árvores que sonhavam o que seriam depois de grandes.
A primeira, olhando as
estrelas, disse: Eu quero ser baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros.
Para tal, até me disponho a ser cortada. A segunda olhou para o riacho e
suspirou: Eu quero ser um grande navio para transportar reis e rainhas. A
terceira árvore olhou o vale e disse: Quero ficar aqui no alto da montanha e
crescer tanto, que as pessoas, ao olharem para mim, levantem seus olhos e
pensem em Deus.
Muitos anos se passaram e
certo dia vieram três lenhadores pouco ecológicos e cortaram as três árvores,
todas ansiosas em serem transformadas naquilo que sonhavam. Mas lenhadores não
costumam ouvir e nem entender sonhos... Que pena!
A primeira árvore acabou
sendo transformada num coxo de animais, coberto de feno. A segunda virou um
simples e pequeno barco de pesca, carregando pessoas e peixes todos os dias. E
a terceira, mesmo sonhando em ficar no alto da montanha, acabou cortada em grossas
vigas e colocada de lado num depósito. E todas as três se perguntavam
desiludidas e tristes:"Para que isso?"
Mas, numa certa noite,
cheia de luz e de estrelas, onde havia mil melodias ao ar, uma jovem mulher
colocou seu neném nascido naquele coxo de animais. E de repente, a primeira
árvore percebeu que continha o maior tesouro do mundo...
A segunda árvore, anos mais
tarde, acabou transportando um homem que acabou dormindo no barco, mas quando a
tempestade quase afundou o pequeno barco, o homem levantou e disse ao mar
revolto: "Sossegai". E num relance, a segunda árvore entendeu que
estava carregando o Rei dos Céus e da Terra.
Tempos mais tarde, numa
sexta-feira, a terceira árvore espantou-se quando suas vigas foram unidas em
forma de cruz e um homem foi pregado nela, pois fora condenado à morte mesmo
sendo inocente. Logo, sentiu-se horrível e cruel, mas no Domingo, o mundo
vibrou de alegria e a terceira árvore entendeu que nela havia sido pregado um
homem para salvação da humanidade, e que as pessoas sempre se lembrariam de
Deus e de Seu Filho Jesus Cristo ao olharem para ela.
As árvores tinham sonhos,
mas as suas realizações foram mil vezes melhores e mais sábias do que haviam
imaginado.
Todos nós temos nossos
sonhos, nossos planos e por vezes, eles não coincidem com os planos que Deus
tem para nós. E quase sempre somos surpreendidos com a sua generosidade e
misericórdia. Por isso, é importante compreendermos que tudo vem de Deus e
crermos que podemos esperar Nele, pois Ele, como um Pai amoroso, sabe o que é
melhor, para cada um de nós. (A. D.)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Por que o vaso se quebrou na mão do oleiro

Por que o vaso se quebrou na mão do oleiro

(Jr 18.1-6)


INTRODUÇÃO: O texto bíblico em pauta fala do relacionamento entre Deus aqui representado pelo (OLEIRO) e o povo de Israel representado pelo (VASO) que pode ser aplicado nos nossos dias, onde Deus continua sendo o OLEIRO e cada um de nós o VASO.

ALGUMAS CONSIDERAÇÃOES IMPORTANTES:

  • Deus sempre está interessado em falar com o homem (Jr 18.1,2).
       Parece que nesse relacionamento o interesse maior de comunicação é sempre da parte de Deus. Isto se observa claramente no nosso dia-dia, no tempo que dispomos para ele, seja na oração, na leitura da sua Palavra, ou no serviço do reino.
        1-3- Deus fala onde e quando ele quer! Não somos nós quem determina onde e quando Deus vai falar. Aqui ele mandou descer à casa do oleiro; para Ezequiel ele disse: "Levanta-te e sai ao vale e ali falarei contigo" (Ez 3.22).

  • Deus sempre está fazendo a sua obra: (Jr 18.3)
        Tem gente que entra e sai na casa do Oleiro e nunca percebe o trabalhar do Oleiro.

  • Por que o vaso se quebrou?  (Jr 18.4)
        Foi imperícia do Oleiro? Foi falta de cuidado do Oleiro? Faltou habilidade do Oleiro no manusear o barro? Não! Esse Oleiro não falha, ele é perfeito! Então por que o vaso se quebrou?
        3-1- A MÁ QUALIDADE DO BARRO: A qualidade final do vaso depende da qualidade do barro que se usa na fabricação.

  • Considerações sobre o barro!
        Ele representa as nossas atitudes e procedimentos, é aquilo que oferecemos para Deus afim de que ele nos transforme em vaso, a qualidade do vaso vai depender do tipo de barro que somos.
        4-1ATITUDES QUE CARACTERIZAM O BARRO RUIM: Dureza de coração, incredulidade, insensibilidade, soberba, impurezas, desobediência, indisposição, pessimismo, covardia, etc.
        Obs. Que tipo de vaso o Oleiro pode fazer com isso? Por maior que seja a capacidade do oleiro, não dá pra fazer vaso bom com esse tipo de barro!
 
        4-2- ATITUDES QUE CARACTERIZAM O BARRO BOM: Coração quebrantado, fé, sensibilidade, humildade, pureza, obediência, coragem, disposição, otimismo, etc.
         Obs. Coloque tudo isso nas mãos do Oleiro e veja que tipo de vaso ele fará de você.
 
        4-3- ISRAEL ÉRA UM BARRO DE PÉSSIMA QUALIDADE: São inúmeras as referências bíblicas onde Deus questiona a situação de Israel.
        4-3-1-A vinha que deu uvas bravas!...(Is 5.1,2; Sl 80. 8-18).
        4-3-2-Casa rebelde!...(Is 1.2,3).
        4-3-3-Povo sem conhecimento!...(Os 4.6).
        4-3-4-A figueira infrutífera!...(Lc 13.6-8).
 
        4-4- SE QUEBROU NA MÃO DO OLEIRO: (Jr 18.4) Não resistiu o processo de moldagem, para que o vaso seja moldado o barro precisa ser amassado.
        Obs. Nas lutas e provações que passamos Deus está amassando o barro para fazer um vaso segundo a sua vontade, se nesse processo o barro não oferece qualidade, o oleiro precisa alterar o seu projeto original. "Queremos ser um vaso de bênção mais não queremos ser amassados pelo oleiro"
 
         4-5- TORNOU A FAZER DELE OUTRO VASO: (Jr 18.4) O projeto original teve que ser alterado, as nossas atitudes e comportamentos podem alterar o projeto de Deus na nossa vida.
 
        4-6- ASSIM SOIS VÓS NA MINHA MÃO: (Jr 18.6) Deus está dizendo que só fará de nós aquilo que permitimos que ele faça.
         Obs. Isso não interfere na ONIPOTÊNCIA de Deus, isso tem a ver com o livre arbítrio que ele deu ao homem, por isso as nossas atitudes, vontades e comportamentos que representam a qualidade do barro, podem limitar o trabalhar de Deus na formação do vaso.

CONCLUSÃO: Deus deseja fazer de cada um de nós um vaso de bênção para que através de nós o seu nome seja glorificado, porém, Deus só fará em nossa vida aquilo que nós permitimos que ele faça.


Autor: Pr. Ismael Mariano Vieira

domingo, 6 de novembro de 2011

Heróis da Fé. (Exemplos a serem seguidos)

A Vingança do Amor



Meu nome é Dabousu. Nasci na França e durante a Segunda Guerra Mundial defendi minha Pátria nos campos de batalha.

No ano de 1944 fui feito prisioneiro pela Gestapo (polícia alemã) e fui condenado à morte. Considerando que era casado e tinha quatro filhos, não me mataram, mas fui levado a um campo de concentração e condenado à cadeia perpétua.

Depois de nove meses, pesava somente 40 quilos. Meu corpo estava coberto de chagas. Quebrei o braço direito, e, devido á falta de recursos médicos, o osso se soldou fora do lugar.

No da 24 de dezembro meus pensamentos estavam, mais do que nos outros dias, voltados para minha família. Eu estava no meio da depravação e da sujeira e, em contraste, imaginava como estariam minha esposa e filhos. Mergulhado nestes pensamentos, um policial entrou no pavilhão onde eu e os presos dormíamos. Gritou meu nome. Apresentei-me a ele e me deu ordem para segui-lo. Levou-me à casa do comandante. Guiou-me até a sala de jantar onde o comandante estava assentado perante uma mesa preparada como se fosse o banquete de um rei. Que visão maravilhosa para os meus olhos famintos! No entanto, não me ofereceu sequer as migalhas.

Deixou-me parado, fitando-o, enquanto se regalava com as várias iguarias que estavam sobre a mesa. Assim passou o tempo; ele comendo e eu olhando-o.

Certamente, o comandante sabia que eu era um cristão no Senhor Jesus Cristo e escolheu esta maneira de torturar-me. Deve ter chegado a ele a notícia de que eu falava de meu Salvador a meus companheiros. Satanás tentou-me de maneira terrível. Soavam em minha mente estas palavras: "Como é, Dabousu, continuas crendo no Salmo 23? Nele não está escrito: "O Senhor é meu Pastor, NADA ME FALTARÁ?". Naquele momento orei fervorosamente ao Senhor, ao mesmo tempo que dizia para comigo mesmo: Sim, continuo crendo no Salmo 23. Continuo crendo na Palavra de Deus".

Naquele preciso momento, um rapaz chegou trazendo uma bandeja com uma xícara de café e vários pastéis. Os pastéis pareciam bem saborosos e o comandante comia-os com muita satisfação. Voltou-se para mim e me disse: "Sr. Dabousu, sua senhora é uma excelente cozinheira. Dou-lhe os meus parabéns por seu trabalho".

Quando o comandante percebeu que eu não o entendia foi mais explícito: "Há sete meses que sua esposa está enviando-lhe periodicamente um pacote com biscoitos, pastéis, tortas e todas estas coisas que está vendo sobre a mesa. Tenho apreciado muito a comida de sua esposa".

Agora eu estava entendendo o que ele quis dizer-me. Pensei em minha querida esposa e nas crianças. Do pouco que certamente teriam para comer, abstinham-se do melhor para que eu tivesse alguma coisa para comer. E ali estava um homem enchendo seu estômago com ricos manjares à custa de minha querida família.

Mais uma vez, o diabo veio tentar-me. A voz do tentador soava em minha mente: "Odeie-o, Dabousu, aborreça-o, maldiga-o, grite, bata nele..." Eu orei fervorosamente e Deus me ajudou. Nenhum sentimento de ódio encheu meu coração, porém, eu ansiava que ele me convidasse para comer. Mesmo que não me desse nada para comer, que pelo menos deixasse pegar naqueles alimentos feitos carinhosamente pelas mãos de minha esposa. Mas o comandante egoísta e glutão comeu tudo e depois me dirigiu palavras grosseiras. Finalmente, disse-lhe: "Senhor comandante, embora o Sr. tenha tantas coisas, na realidade é pobre. Quanto a mim, sou rico, pois sou salvo pelo sangue precioso do Senhor Jesus Cristo".

Após ouvir meu testemunho, seu furor acendeu-se contra mim de tal maneira que suas palavras passaram a cair sobre mim como uma cachoeira. Mandou-me de volta para o pavilhão, junto com meus companheiros.

Quando terminou a guerra fui libertado junto com os outros prisioneiros. Daquele dia em diante me propus a descobrir o paradeiro do comandante. A maior parte dos comandantes dos campos de concentração foram mortos. Este, porém, tinha escapado usando um disfarce. Durante mais de dez anos o procurei, até que por fim consegui descobrir seu paradeiro. Fui visitá-lo, acompanhado de um pregador do Evangelho. Inicialmente, fingiu não me reconhecer.

"Eu era o número 175 no registro do campo de concentração", disse-lhe eu. "O Sr. não se lembra do dia 24 de dezembro de 1944?"

Como uma folha estremecida pelo vento, o homem começou a tremer. Sua esposa, que estava a seu lado, ficou cheia de pânico. "Veio para vingar-se?", disse-me ela com voz temerosa e fraca. Eu respondi: "Sim, vim para vingar-me". Olhou-me atemorizada.

Abaixei-me para pegar um pacote que eu tinha trazido, abri-o e apareceu uma magnífica torta feita por minha esposa. Pedi à Sra. do comandante que nos preparasse um café. Quando ficou pronto, os quatro nos assentamos à mesa.

Enquanto comíamos, os olhos do antigo comandante se encheram de lágrimas. Implorou-me que o perdoas-se. Respondi-lhe: "Ali mesmo, enquanto o Sr. me perseguia, eu o perdoei em nome do Senhor Jesus Cristo".

Um ano mais tarde, o antigo comandante juntamente com sua esposa aceitaram o Senhor Jesus como seu Salvador. Continuaram na fé e deram evidências de que tinham nascido de novo. Guiados pelo Espírito Santo, eles entenderam o amor de Deus, derramado em nosso coração. Este mesmo amor nos ajuda a obedecer as palavras do Senhor Jesus Cristo. "Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos de vosso Pai celeste (Mateus 5.44-45)"

Fonte: Revista Plenitude nº 21 – Agosto/1984


Myer Pearlman



O saudoso irmão Myer Pearlman foi um judeu que se converteu a Cristo. A história de sua breve vida de apenas 44 anos é um verdadeiro romance. Myer Pearlman, pela sua extrema simplicidade cristã e dedicado amor a Jesus, de quem foi um dos mais ardorosos discípulos, ainda vive no coração de milhares de seus admiradores.

Nascido a 19 de dezembro de 1898, em Edinburgo, na Escócia, de pais israelitas, o jovem primogênito, Myer, tal qual um Saulo de Tarso, passou os primeiros anos de sua educação na Escola Hebraica, aos pés de rabinos que lhe inculcaram os ensinos férreos do Judaísmo tradicional, das Escrituras do Antigo Testamento, e da língua hebraica. Ele recorda que nesses dias os alunos compravam a Bíblia, como nós a temos, e arrancavam o Novo Testamento do livro, pois não lhes era permitido lê-lo, por ser considerado espúrio. O estudante Myer distinguiu-se pelas qualidades excepcionais de rara inteligência e perspicácia. Aos 14 anos, sozinho, aprendeu a língua francesa, a poder de freqüentes consultas à Biblioteca Pública, conhecimento que muito lhe valeu nos dias da Primeira Guerra Mundial, ocasião em que serviu como intérprete no exército norte-americano, na França.

Jesus, a Luz do mundo, guiava os passos do jovem Myer em direção ao "Santuário", como ele, posteriormente, costumava dizer. A família mudou-se para os Estados Unidos da América, onde esperava encontrar melhores condições de vida. Certa ocasião, na cidade de Cincínnatí, passeando em determinada rua, foi fortemente impressionado por um letreiro na fachada de uma igreja evangélica, que dizia: Igreja Aberta. . . Entre. . . Descanse E Ore." Por um instante quis entrar, mas logo abafou o impulso que, certamente, era inspirado pelo Espírito Santo. Anos depois, quando já convertido, ele teve oportunidade de entrar nessa mesma igreja e agradecer a Deus o tê-lo dirigido no caminho da luz e da vida.

Quando servia no exército, ganhou um Novo Testamento, que leu com muito interesse, estando a sua alma em procura ardente de certa satisfação, por ora desconhecida. Após a Segunda Guerra Mundial, ele foi residir em São Francisco, na Califórnia. Certa noite, ao passear, foi sua atenção despertada por um grupo de cristãos da fé pentecostal, que dirigia um culto em praça pública defronte de um salão. Em outra noite novamente chegou perto para ouvi-los e teve a coragem de entrar nesse salão de cultos. Ficou grandemente impressionado pelos hinos alegres cantados em louvor a Deus, hinos que muito contrastavam com os cânticos tristonhos da sinagoga. Um desses hinos era de autoria do saudoso irmão F. A. Graves, grande pioneiro do movimento pentecostal. Myer não podia ter imaginado que mais tarde ele se casaria com a filha desse irmão, Irene Graves! Como são maravilhosos os caminhos do nosso Deus! Assim começou o jovem Myer a freqüentar, todas as noites, durante semanas, os cultos nesse humilde salão. Certa noite ele pensou em ir ao cinema, mas acabou assistindo ao culto, tanto foi a estranha atração da presença de Deus. O povo, sabendo de sua origem judaica, tratava-o com todo o carinho e orava ao Senhor pela sua conversão. Certa noite, deitado na sua cama, foi completamente vencido por uma sensação de remorso, sentindo fortemente a sua culpa perante Deus. Logo depois, em um culto, ao sair da igreja, ficou parado perto da porta, ouvindo o último hino. De repente, sentiu descer sobre si uma influência indescritível e maravilhosa. Foi esse o momento decisivo de sua vida quando Myer abriu o coração a Jesus, a Luz do mundo. Essa Luz resplandeceu nas trevas dessa alma. Havia ele chegado ao seu "Santuário", que tanto almejara! Seu coração havia experimentado a realidade da Pessoa de Cristo, o seu Messias! Tal qual Saulo de Tarso, Myer Pearlman encontrara-se com Jesus, o Nazareno!

Não demorou muito, e certo dia, quando em oração a seu Messias, Myer Pearlman começou a falar em língua por ele desconhecida. Mesmo para ele, lingüista, foi uma gloriosa surpresa receber, como os discípulos no dia de Pentecoste, o maravilhoso dom do Espírito Santo, o Consolador, de que tanto ele viria a precisar em dias posteriores.

Sentindo o chamado do Senhor para dedicar a vida ao trabalho do Evangelho, Myer matriculou-se no Instituto Bíblico Central, que, havia pouco, fora fundado em Springfield, no Estado de Missouri. Fez o curso de três anos, ao término do qual foi convidado a ser professor nesse mesmo educandário. Durante quatorze anos Myer Pearlman distinguiu-se como instrutor dotado de rara capacidade magisterial, possuído como era de inteligência sempre consagrada ao seu Mestre e Senhor. Graças à sua formação baseada no Antigo Testamento, pôde torná-lo um Livro extremamente interessante para os seus alunos. E, além desses trabalhos, como professor do Instituto, o irmão Pearlman aceitava convites para dirigir estudos bíblicos em diversas partes do país. Também se tornou autor de diversos livros de grande utilidade e que grande influência têm exercido, não somente na língua inglesa, mas também em diversos idiomas para os quais foram traduzidos.

Durante anos, foi autor da Revista para Adultos e da Revista para Professores de Adultos das Escolas Dominicais, trabalho ao qual se dedicou prazerosamente, com todas as energias, até ao tempo de sua morte. Durante a Segunda Guerra Mundial lançou, ainda, um jornal em estilo próprio para a evangelização das Forças Armadas, denominado "Reveille", o qual foi um grande sucesso e certamente muito contribuiu para a salvação de milhares de homens e mulheres a serviço da pátria.

Em 1942 os excessivos trabalhos literários e didáticos cansaram o organismo do nosso estimado irmão Pearlman, resultando em uma crise aguda do sistema nervoso. Com as complicações de pneumonia, que advieram, foi rapidamente encurtada a carreira brilhante desse humilde servo de Cristo de Nazaré, servo que não buscava a glória terrestre, e, sim, a celeste. Apesar de ter recebido a melhor assistência hospitalar, veio a falecer aos 44 anos de idade. Um dos enfermeiros testificou que havia orado a noite toda. Deixou esposa e três filhos, e inúmeros amigos em toda parte do mundo que o têm em admiração e que aguardam o dia quando novamente possam abraçar esse saudoso judeu, que, apesar da pequena estatura física, era, em verdade, grande de espírito.

Para o autor destas linhas póstumas, tem sido um prazer e raro privilégio traduzir a presente obra de pena do irmão Pearlman, Através da Bíblia livro por livro*, na esperança de que ela proporcione aos leitores de língua portuguesa, obreiros em particular, um mui profundo conhecimento bíblico e pentecostal das grandes verdades da nossa fé. Creio que muitos, ao manusearem estas páginas, experimentarão algo da sensação que nós, que tivemos o privilégio de ser seus alunos, experimentamos nos estudos dirigidos pelo saudoso irmão Pearlman, que tão ardentemente amava ao seu Senhor, o Messias, o Cristo de Deus, e a quem tudo entregou - até a própria vida.

N. LAWRENCE OLSON
Rio de Janeiro
Março de 1959
*Editado pela Editora Vida


William Tyndale, o pai da Bíblia Inglesa




William Tyndale nasceu aproximadamente em 1483, na vila de North Nibley. Ordenado ao sacerdócio em 1502, ele se distinguiu em Oxford recebendo o seu diploma de Bacharel em Artes, em 1515. Mais tarde ele se transferiu para Cambridge, onde se tornou familiarizado com Erasmo e o seu Novo Testamento Grego. Enquanto atravessava esse tempo de reflexão, Tyndale experimentou uma iluminação espiritual semelhante à de Lutero.

Quanto mais ele estudava esse tesouro recém descoberto, mais acentuada se tornava a sua preocupação no sentido de que os seus companheiros ingleses dele compartilhassem. Foi durante esse período de formação que aconteceu a clássica discussão de Tyndale com um papista fanático. Antagonizado pela sua incapacidade de refutar a racionalização Bíblica de Tyndale, o exasperado sacerdote gritou: "seria melhor que ficássemos sem as leis de Deus do que sem as leis do papa", ao que Tyndale retorquiu indignado:

Desafio o papa e todas as suas leis; e se Deus me poupar a vida por muitos anos, levarei um garoto que conduz o arado a conhecer mais a Escritura do que vós.

Com essas audaciosas palavras representando a motivação de toda a sua vida, Tyndale decidiu resgatar os seus iletrados patrícios da desesperança e infelicidade do Romanismo, declarando:

Essa causa apenas me conduziu a traduzir o Novo Testamento. Porque eu havia percebido, por experiência, como seria impossível levar o povo leigo à verdade, a não ser que as Escrituras fossem claramente colocadas diante dos seus olhos na língua mãe.

O pedido de Tyndale para se alojar com o renomado Cuthbert Tonstal, Bispo de Londres, recebeu uma fria negativa. Do mesmo modo como o estalajadeiro de Belém negou abrigo à "Palavra Viva" o prelado indiferente fez o mesmo ouvido surdo à "Palavra Escrita", nenhum deles reconhecendo o tempo de sua visitação.

O Senhor compensou essa humilhação, enviando Tyndale até um comerciante simpático, o qual não apenas abriu sua residência em Londres, para o Reformador, como ainda lhe deu dez libras de presente, pedindo-lhe que orasse por "seu pai, sua mãe, suas alma e todas as almas cristãs". Contudo seis meses depois do início da tradução, Tyndale detectou uma crescente hostilidade dos oficiais lacaios contra o seu projeto. Grande parte dessa pressão foi atribuída às pazes de Henrique VIII com Roma, a respeito do controvertido pedido de anulação do seu casamento com a "estéril" rainha Catarina. Tyndale conclui com tristeza:

A partir daí, percebi que não apenas no palácio do bispo de Londres, mas em toda a Inglaterra, não havia lugar onde eu pudesse tentar uma tradução das Escrituras.

Em face dessas condições inaceitáveis, Tyndale transferiu-se para a Alemanha, em 1524, sem imaginar que jamais colocaria os pés novamente em solo inglês (Contudo, Foxe chamou Tyndale de "o Apóstolo da Inglaterra").

Tendo garantido alojamento em Hamburgo, o fugitivo fez uma peregrinação imediata até Wittenberg. O patrocínio negado a Tyndale por Tonstal foi mais do que compensado pelo audacioso Lutero, que iria declarar sem timidez: "Nasci para a guerra e a luta contra as facções e os demônios".

O Dr. J. R. Green captou o espírito contagiante de Lutero com a narrativa da visita deste a Tyndale:

Encontramo-lo em seu caminho para a cidadezinha que havia repentinamente se tornado a cidade sagrada da Reforma. Estudantes de todas as nações ali se reuniam com um entusiasmo que lembrava aquele dos cruzados. "Quando vinham para ver a cidade", conta-nos um contemporâneo, "retornavam graças a Deus com as mãos preparadas para de Wittenberg, como a partir de Jerusalém fosse a luz da verdade do evangelho espalhada até aos confins da terra". Foi por insistência de Lutero que Tyndale ali traduziu os evangelhos e as epístolas.

Tyndale receberia muita coragem para suas futuras experiências da parte do austero alemão, cuja visão pessoal sobre os perturbadores era essa: "você não pode enfrentar um rebelde com a razão. Sua melhor resposta é esmurrá-lo no rosto até que ele sangre pelo nariz".

Com o coração reanimado, Tyndale iniciou o seu esforço pioneiro de produzir a Bíblia Inglesa traduzida diretamente das línguas originais. Partiu dele uma excepcional concessão para uma tão grandiosa ventura. O professor Herman Buschais descreveu Tyndale para Spalatin como:

Um homem tão versado nas sete línguas: Hebraico, Grego, Latim, Italiano, Espanhol, Inglês e Francês, que qualquer uma que ele falasse poderia dar a impressão de ser a sua língua nativa.

Esta erudição foi confirmada no comparecimento de Tyndale diante dos editores de Colônia, Quental e Byrschmann, antes de completar um ano. Embora desconhecido a Tyndale, o arquinimigo de Lutero, o teólogo católico John Cochlaeus, Deão da Igreja da Bendita Virgem em Frankfurt, seguiu direto em suas pegadas. Quando viu os católicos na Alemanha preparados com Bíblias até às orelhas, Cochlaeus se queixou:

O Novo Testamento de Lutero se multiplicou e espalhou de tal maneira através dos editores que até mesmo alfaiates e sapateiros, sim, até mesmo as mulheres e as pessoas ignorantes, que aceitaram esse novo evangelho luterano e podiam ler um pouco de alemão, estudavam-no, com a maior avidez, como sendo a fonte de toda a verdade. Alguns o memorizaram, carregando-o no íntimo. Em poucos meses esse povo ficou tão letrado que não se envergonhava de debater sobre a fé e o evangelho, não apenas com os leigos católicos, mas até mesmo com os padres e monges e doutores em divindades.

Cochlaeus não podia permitir que esse pesadelo alcançasse a Inglaterra. Certo dia ele escutou por acaso alguns tipógrafos discutindo a respeito da obra de Tyndale. Embriagando-os com uma certa quantidade de vinho, ele ficou perplexo ao descobrir que o Novo Testamento Inglês já estava sendo impresso. Depois de ver apenas dez folhas completadas, Tyndale foi advertido da chegada de magistrados. Auxiliado pelo seu amanuense, William Roye, ele pôde transferir os preciosos documentos para Worms, deixando ao chão um padre frustrado.

Com a comparativa segurança da "retaguarda" oferecida por Lutero, as primeiras três mil cópias do Novo Testamento de Tyndale foram completadas em 1525 pelo editor de Worms - Schoeffer – e contrabandeadas para a Inglaterra, em barris, pilhas de roupa e sacos de farinha. Ao contrário da tradução dos manuscritos latinos de Wycliff, a obra de Tyndale foi diretamente traduzida do Grego e, mais que isso, do Textus Receptus da segunda e terceira edições de Erasmo. (Erasmo havia rejeitado as leituras Alfa e Beta da Vulgata, pavimentando, assim, a estrada para centenas de mártires em Smithfield, os quais iriam morrer por causa do Texto Majoritário).

Tendo sido alertado por Cochlaeus da "importação pendente de perniciosa mercadoria", o clero inglês ficou de sobreaviso nos portos. Muitas Bíblias foram interceptadas e queimadas em cerimônias, na Saint Paul Cross em Londres, pelo bispo Tonstal, que as chamava de "uma oferta queimada ao Deus Todo Poderoso".

Esse bispo enfatuado afirmava ter encontrado 2.000 erros na mesma. Sir Thomas More acrescentou: "tentar encontra erros no livro de Tyndale foi o mesmo que tentar água no mar". More seria degolado mais tarde, como um traidor da pátria.

Sem se intimidar, Tyndale exclamou no espírito do seu mentor alemão:

Ao queimar o Livro eles fizeram exatamente o que eu esperava; provavelmente eles vão também me queimar, se for essa a vontade de Deus.

Contudo, apesar desse diabólico esforço, muitos dos volumes reprovados foram dispersos pela terra (quase 50.000, segundo alguns cálculos). As dores sofridas no sentido de proteger esses Novos Testamentos podem ser vislumbradas através do que um sóbrio cristão escreveu:

Guardas perigosos cheios de whisky,
que em vão buscavam essa coluna,
gozavam de clandestinidade
e esconderijo com sofrimento ansioso.
Enquanto tudo à volta era miséria e escuridão,
Este livros nos mostrava o beijo sem fronteira,
além da tumba,
libertos dos padres venais – do castigo feudal.
Ele permitiu ao sofredor
seus passos fatigados até Deus.
E quando essa sofrida maldição na terra aconteceu
Esta principal riqueza do seu filho desceu.

Que o poder do Novo Testamento de Tyndale foi causa de alarme entre os católicos ficou evidenciado pela carta do bispo de Nikke ao seu superior, na qual se lia em parte: "está além do meu poder, ou de qualquer homem espiritual, impedir isso agora, e se assim continuar por muito tempo, ele a todos nos destruirá".

Com a cabeça erguida, Tyndale se mudou para Marburg, em 1528, onde ficou sob a proteção de Philip, o Magnânimo, Conde de Hesse. Após ter trabalhado, por quase um ano, no Pentateuco, ele embarcou para Hamburgo, porém sofreu um naufrágio na viagem, perdendo o manuscrito de Deuteronômio recém concluído.

Após uma chegada com atraso em Hamburgo, ele foi residir com Margarete von Emmerson, onde concluiu a tradução de Gênesis até Deuteronômio. Com o seu aparecimento na cidade livre de Antuérpia (para conseguir a impressão desses novos livros), Tyndale arquitetou um plano engenhoso para repor suas urgentes carências financeiras. Já ficou conhecido que o arrogante bispo Tonstal, levado ao desespero pela divulgação do Novo Testamento, havia tentado salvaguardar-se, removendo-os do comércio através de uma compra ilegal. Contudo, sem que Tonstal o soubesse, o comerciante intermediário do qual ele se aproximou, Augustine Pakinghton, era um dos simpatizantes e mantenedores de Tyndale. Foxe o descreve com esta maravilhosa narrativa poética de justiça:

Alguma semanas mais tarde, Pakinghton entrou no humilde alojamento de Tyndale, cujas finanças ele sabia terem se esgotado.

Pakinghton – "Mestre Tyndale, encontrei para vós um bom comprador dos vossos livros.

Tyndale – quem é?

Pakinghton – o senhor bispo de Londres.

Tyndale – mas se o bispo quer esses livros será apenas para queimá-los.

Pakinghton – bem... e então? O bispo os queimará de qualquer maneira e bom seria que conseguíssemos dinheiro para imprimir mais.

Tyndale – ficarei contente por esses benefícios que advirão: vou receber o dinheiro para me livrar dos débitos e o mundo inteiro vai gritar contra a queima da Palavra de Deus. O restante do dinheiro me possibilitará corrigir o dito Novo Testamento, e novamente imprimir o mesmo, confiando em que o segundo será bem melhor do que o primeiro já impresso.

Depois disso, os Novos Testamentos reimpressos logo alcançaram a Inglaterra. Então o bispo mandou procurar novamente Pakinghton indagando como era possível que os livros fossem ainda tão abundantes? "Meu senhor", respondeu o comerciante, "realmente eu acho que seria melhor que comprásseis também os tipos pelos quais eles são impressos".

Que esse conselho não foi seguido, nem é preciso declarar.

Com o lucro do seu "mais novo cliente", Tyndale entregou o seu Pentateuco, em 1530, através da Casa publicadora Hans Luft, de Marburg, com a sua tradução de Jonas sendo publicada na Antuérpia, no ano seguinte.

Por esse tempo a animosidade contra Tyndale havia aumentado consideravelmente. Além das traduções desprezadas, seus diversos ataques verbais contra Roma não estavam lhe angariando muitos amigos:

"A parábola do Maligno Mamom", 1528; "A Obediência de um Cristão" e "Como os Governantes de Cristo Devem Governar", em 1530; e sua "Prática de Prelados" , também em 1530. Numa de suas notas marginais em Jonas ele comparou a Inglaterra com Nínive.

No ano de 1535, um crédulo Tyndale foi traído por um agente secreto católico, Henry Phillips, o qual havia angariado a confiança do reformador. Depois de tomar um empréstimo de última hora no valor de 40 shillings, de sua generosa vítima, os dois homens seguiram para a pensão de Tyndale, a fim de jantar. O traidor Phillips insistiu pretensiosamente como o seu "amigo", para ir na frente. Logo que saiu, Phillips, no espírito de Judas Iscariotes, apontou na direção dele pelas costas, como sinal combinado para identificá-lo aos oficiais. O idoso santo foi depressa levado para o calabouço da fortaleza próxima de Vilvorde, dezoito milhas ao norte de Antuérpia.

Como o julgamento do seu Mestre por Pilatos, o caráter de Tyndale era inquestionável, impressionando até mesmo o promotor do Imperador que o levara a considerá-lo "homo doctus, pius, et bonus" (homem sábio, piedoso e bom).

Durante os dezoito meses do seu encarceramento, Tyndale se manteve firme. Um dos documentos mais tristes existentes em toda a história da igreja (tirado dos arquivos do Concílio de Brabant) é uma carta escrita em Latim, pela própria mão do reformador, para o governador de Vilvorde, talvez o Marquês Burgon:

Creio, cheio de legítima adoração, que não estarei despercebido do que pode ter sido determinado com respeito a mim. Daí porque peço a Vossa Senhoria, e isso pelo Senhor Jesus, que se devo permanecer aqui pelo inverno, Vossa Senhoria diga ao comissário que faça a gentileza de enviar-me, dos meus pertences que estão com ele, um boné contra o frio, visto como sinto muito frio na cabeça e sou afligido pelo contínuo catarro, que aumentou muito nesta cela. Também uma capa de inverno, pois a que tenho é muito fina; também uma peça de roupa para agasalhar minhas pernas. Meu sobretudo está gasto; minhas camisas também estão gastas. Ele tem uma camisa de lã e por favor, ma envie. Também tenho com ele perneiras de pano grosso para usar por cima. Ele tem também toucas quentes de dormir.

Peço que me seja permitido ter uma lâmpada à noite. É de fato aterrador ficar sentado sozinho no escuro. Mas, antes de tudo, peço que ele gentilmente me permita ter uma Bíblia hebraica, uma gramática hebraica e um dicionário hebraico, para que eu aproveite o tempo estudando. Em compensação Vossa Senhoria possa conseguir o que mais deseja, contanto que seja apenas para a salvação de sua alma. Mas se qualquer outra decisão foi tomada a meu respeito para ser executada antes do inverno, terei paciência, aceitando a vontade de Deus, para glória da graça do meu Senhor Jesus Cristo, cujo Espírito eu oro que possa dirigir sempre o vosso coração. Amém!

Assinado: W. Tyndale

De fato, foi a vontade de Deus que o seu servo passasse ali, não apenas aquele inverno, mas a próxima primavera e também o verão. Temos confiança de que ele conseguiu seus auxílios lingüísticos, visto como deixou atrás dele a tradução completa de Josué até II Crônicas.

Com as folhas do outono de 1536 anunciando a aproximação certa de outro inverno, o tempo da partida de Tyndale havia chegado. Condenado pelo decreto do Imperador, na assembléia de Augsburg, a data de sua execução foi estabelecida para 6 de outubro. Foxe nos transporta até essa cena sombria:

Trazido para o local da execução, ele foi atado à estaca, estrangulado por um carrasco e depois consumido pelo fogo, na cidadezinha de Vilvorde em 1536 d.C., gritando na estaca, em alta voz com fervorosa preocupação: "Senhor, abre os olhos do Rei da Inglaterra!

Quando o fiel Tyndale estava terminando a obra de sua vida, com uma última e incompreensível oração pela iluminação do rei, ele não podia imaginar que a resposta do céu já estava a caminho. McClure relata o miraculoso testemunho de que:

O que foi mais estranho em tudo isso e inexplicável para aqueles dias é que na hora exata em que Tyndale, por obtenção dos eclesiásticos ingleses e pelo tácito consentimento do rei inglês, foi queimado em Vilvorde, uma edição paginada de sua tradução era impressa em Londres, com o seu nome na página titular e por Thomas Berthlet, com a própria patente de impressão do rei. Essa foi a primeira cópia das Escrituras impressa em solo inglês.

Contudo, muito mais significativo do que esse misterioso rasgo da Providência foi a sanção oficial dada pelo próprio Henrique de duas Bíblias Inglesas dentro de um ano, a partir do martírio de Tyndale. A primeira destas foi a Bíblia Coverdale, nomeada segundo o antigo revisor em Antuérpia, Miles Coverdale (1488-1569).

A Bíblia Coverdale mantém a honra exclusiva de ser a primeira Bíblia Inglesa completa já impressa. Como Wycliff, Coverdale era fraco nas língua originais, de modo que sua obra consistiu do Novo Testamento e do Pentateuco, com os demais livros do Velho Testamento sendo conseguidos, primeiramente da tradução alemã de Lutero, com pequeno empréstimo da Vulgata Latina e da Bíblia Suíça de Zurique.

Embora Coverdale tivesse sido forçado a publicar sua primeira edição em Colônia (1535), ele muito prudentemente dedicou-a ao rei da Inglaterra e também teve o cuidado de excluir o estilo controverso das notas marginais associadas com a Bíblia de Tyndale. Não é difícil entender a boa vontade de Henrique de pessoalmente autorizar essa Bíblia (segunda edição da Coverdale de 1537), quando a capa o apresentava sentado e coroado, empunhando uma espada na página dedicatória, creditando-o como "defensor da fé". A diplomacia de Coverdale coincidia com a recente quebra do controle de Roma sobre as igrejas inglesas. Embora sem renunciar às doutrinas católicas o Ato de Supremacia aprovado pelo Parlamento em 11/11/1534, foi certamente o passo mais importante em direção à Reforma Inglesa.

A segunda Bíblia a receber sanção especial naquele ano foi outra aventura discreta. Conhecida como a Bíblia de Mateus, essa tradução foi realmente feita por John Rogers (1500-1555), o qual usou o pseudônimo de Thomas Matthews, em vista de sua bem conhecida associação com Tyndale. O melhoramento fundamental da Bíblia de Matthews foi a inclusão das obras de Tyndale "escritas no cárcere" – Josué e 2 Crônicas. Com o Pentateuco de Tyndale e o Novo Testamento basicamente intactos, a Bíblia Coverdale preencheu o vácuo, visto como Rogers assegurou alguma assistência das versões francesas de Le Fevre e Olivertan. Como a Bíblia Coverdale, a de Rogers foi também autorizada pelo rei, que tornou legal que a mesma pudesse ser comprada, lida, reimpressa e vendida. Do lado mais claro, a Bíblia de Mateus é algo referido como "a Bíblia do homem que apanha da mulher", por causa da nota, fora de época, em 1 Pedro 3:1, onde se lê: "Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos; para que também, se alguns obedecem à palavra, pelo porte de suas mulheres sejam ganhos sem palavra".

Logo depois veio a Grande Bíblia de 1538, nomeada conforme o seu tamanho especial (16" por 11"). Ela era basicamente uma revisão da Bíblia de Mateus feita por Miles Coverdale, com pouca mudança, exceto pela remoção das notas marginais controversas de Rogers. A Grande Bíblia teve a distinção de ser a primeira Bíblia oficialmente autorizada para uso público nas igrejas da Inglaterra, pelo que foi exigido que ela fosse literalmente acorrentada a uma parte do mobiliário da igreja, onde os paroquianos tinham "acesso à mesma para ler".

Com a obesidade de Henrique forçando-o provavelmente a pensar na eternidade (tendo engordado tanto que precisava ser levantado com roldanas para montar no cavalo), o rei sancionou oficialmente a Grande Bíblia com: "Em nome de Deus, deixe-a partir para o estrangeiro, junto do nosso povo". Sem dúvida, Tyndale teria dado uma risada, por razões óbvias. Em janeiro de 1547, o próprio Henrique partiu desta terra.

Nota da tradutora:
Aqui tivemos um esboço da vida do pai da Bíblia inglesa, que se entregou à morte por amor à Palavra de Deus, levando ao seu país uma grande renovação espiritual, a qual aconteceria dentro de pouco anos.
Mary Schultze (maryschultze@uol.com.br)
Dados compilados do capítulo 9 do livro "Final Authority", do Dr. William P. Grady, Th.D.
Fonte: http://solascriptura-tt.org


William Booth
Exército da Salvação




Todas as denominações evangélicas surgiram a partir do ideal de algum cristão consagrado. Com o Exército de Salvação - organização religiosa e filantrópica - não poderia ser diferente. Sua história começa em 1864, quando William Booth (1829-1912), cristão metodista Wesleyano, criou, juntamente com a esposa, Catherine Mumford, a Missão Cristă, em Londres, Inglaterra. O casal, então, a partir desse passo, iniciou o que seria denominado de movimento salvacionista, com base na filantropia e na pregação do Evangelho. A entidade era uma espécie de ONG (organização năo-governamental) que se dispunha a ajudar os miseráveis, os quais, naquele tempo, proliferavam no império britânico por causa dos efeitos da Revolução Industrial, que deixou multidões sem emprego e perspectiva.

Após uma infância e juventude pobres, Booth e sua esposa se sentiram tocados pelo sofrimento daquela população e decidiram dedicar a vida a apoiá-los. Ex-prisioneiros, mulheres perdidas, moradores de rua e alcoólatras foram os primeiros a experimentar esse amor e, ao mesmo tempo, receber a Palavra de Deus. Só em 1878, nasceu o Exército da Salvação com uma estrutura de comando paramilitar.

Caldeirão de ofertas - O nome escolhido - Exército da Salvação - justifica-se. Na época, o império britânico estava em guerra com a Rússia. Por isso, os missionários da igreja utilizavam em seu discurso evangelístico temas e linguagem militares - com base na idéia de que o exército de Deus está sempre em guerra contra as potestades do mal. A idéia deu certo. Booth se intitulou general e se dedicou, incansavelmente, ao desenvolvimento de sua organização, que, a partir de 1880, propagou-se por todo o mundo. Surgiram, então, naquela mesma época, as bandas de música e o caldeirão para colocar ofertas, coisas que ficaram marcadas na história dessa denominação e, até hoje, fazem parte da sua liturgia.

O Exército de Salvação possui uma estrutura eclesiástica distinta das demais, tem como base as patentes militares e, atualmente, pode ser encontrado em 103 países. Seus 25.400 oficiais são auxiliados por mais de 1 milhão de soldados. A entidade administra escolas, hospitais, clínicas, albergues, lares para crianças e idosos, creches e centros comunitários.

Se estivessem vivos para ver o crescimento espantoso da organização, Booth e a esposa ficariam extasiados. O Exército da Salvação dos dias atuais é fruto do empenho dos salvacionistas do século 19, os quais sofreram muito para manter o trabalho. Muitos foram derrubados ao chão, pisoteados ou brutalmente agredidos; alguns que, como Booth, pregavam a Palavra e as boas obras foram presos. No entanto, Booth e os demais salvacionistas perseveraram, pregando nas ruas, em portas de bares, tendas de lona, cinemas e teatros. O grupo que marchava pelas ruas de Londres logo começou a ser conhecido como os Soldados de Jesus e fundamentava seu discurso na luta contra o pecado e a degradação humana.

Uniformes - Surgiram, então, os uniformes, a bandeira e as insígnias, imitando a postura militar. Em dez anos, a entidade cresceu e alcançou toda a Inglaterra: Deus recebeu tudo o que havia em mim. Há homens com inteligência maior que a minha, homens com mais oportunidades do que eu, mas, a partir do dia em que coloquei os pobres de Londres em meu coração e tive uma visão daquilo que Jesus Cristo poderia fazer pelos pobres de Londres, decidi que Deus teria tudo o que havia de William Booth, comentou o fundador do Exército da Salvação, algum tempo depois.

Um dos segredos do sucesso de seu ministério era o fato de que a entidade estava sempre presente quando necessária. Para tanto, o patriarca envolveu a família na batalha contra o sofrimento. Sua mulher, Catherine, contribuiu para a obra com sermões e numerosos escritos. O filho, William Bramwell, sucedeu o pai como general. A filha, Evangeline, foi fervorosa apóstola da organização e, com apenas 18 anos, já realizava a sua obra no East End, bairro muito pobre de Londres. Realmente, Evangeline teve de vestir uma farda militar quando organizou postos de acolhida no front francês durante a Primeira Guerra Mundial. Depois de passar por todos os graus do Exército da Salvação, Evangeline chegou ao generalato em 1934. Nada mal para uma mulher em uma época em que sequer lhe era concedido o direito de votar.

Exército no país - No Brasil, o Exército da Salvação começou a operar em 1922, por intermédio dos coronéis David e Stella Miche, que se instalaram no Rio de Janeiro em um período em que já não havia mais perseguição aos cristãos; pelo contrário, a entidade foi aceita, reconhecida e apoiada pelas autoridades brasileiras.

A obra foi implantada na cidade do Rio de Janeiro e, posteriormente, em Niterói (RJ), ainda em 1922. Em 1924, o Exército da Salvação ampliou sua presença para São Paulo e, a partir dessa sede, criou bases em Santa Catarina, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Só em 1968, foi iniciada a obra da organização em Brasília. Na década de 80, o Exército, finalmente, cercou o país de Norte a Sul, fincando sua bandeira no Nordeste, particularmente, nos estados de Pernambuco e Paraíba.

O coronel William John Jones, que preside a denominação no país, afirma que a igreja dá ênfase às boas obras, pois elas são demonstrações de amor: "Não temos a menor dúvida de que foi o sacrifício de Jesus na cruz que nos deu a salvação. Portanto, Cristo não ficou só nas palavras e nos ensinamentos; Ele pagou o preço por amor a nos. Cremos que devemos seguir Seu exemplo e não ficar, simplesmente, no discurso. Há muitas pessoas que precisam de ação, do nosso esforço e empenho", explica ele. Jones trabalha na sede nacional da instituição, oficialmente denominada "Assistência e Promoção Social Exército de Salvação", localizada no bairro do Jabaquara, em São Paulo.

William Jones conta que a igreja tem cerca de cinco mil soldados no Brasil e outros 143 oficiais, dentre eles, os pastores das 45 igrejas da denominação no país.

O Exército da Salvação tem uma peculiaridade: para um soldado tornar-se oficial, ele deve, por um período de dois anos, cursar com a esposa, o Colégio dos Cadetes em São Paulo, uma espécie de seminário. Quando concluem o curso, marido e mulher galgam, juntos, os postos de comando: tenente, capitão e assim por diante. O cargo de general, ocupado atualmente pelo inglês John Gowans em Londres, é único.

Texto: Marcelo Dutra
Fonte: Revista Graça, ano 2 nº 19, Fevereiro/2001 www.ongrace.com


George Whitefield




"Pregava para as multidões ao ar livre, porque as igrejas na Inglaterra do século 18 não o recebiam"


A partir de 1737, com apenas 23 anos, George Whitefield (1714-1770) assustou a Inglaterra com uma série de sermões que transformaram a sociedade britânica. Atacado pelo clero, pela imprensa e até por uma multidão de insatisfeitos, Whitefield se tomou o pregador mais popular naquela época. Entretanto, antes disso, ele passou por situações muito semelhantes as que experimentam alguns missionários nos dias atuais. Repetidas vezes, ele teve de pregar fora dos portões do templo pelo simples fato de sua pregação apaixonada ser muito distante da usual formalidade dos pastores daquele tempo. Ele chegou a ser agredido em algumas ocasiões. Na cidade de Basingstoke, por exemplo, foi espancado a pauladas. Em Moorfield, destruíram a mesa que lhe servia de púlpito. Em Exeter, durante uma pregação para dez mil pessoas, Whitefield foi apedrejado.

Nada, porém, podia conter aquela mensagem. A influência de Whitefield cresceu de tal forma que ele era capaz de manter atentas 20 mil pessoas, encantadas com seus sermões, por mais de duas horas. Durante 34 anos, a voz de George Whitefield ressoou na Inglaterra e América do Norte. Whitefield era um calvinista firme, de origem metodista. Era um evangelista agressivo que cruzou o Oceano Atlântico 13 vezes a fim de proclamar a salvação também na América. Ele se tornou o pregador favorito dos mineiros de carvão e dos valentões de Londres porque ia até eles em vez de esperá-los dentro das igrejas.

Histórico familiar - Whitefield, um pregador fascinante, contrariou todas as teorias "deterministas". Nasceu em uma taberna em que eram servidas bebidas alcoólicas e morreu pregando a Palavra de Deus como um dos mais sérios servos de Deus de toda a História. Seu pai faleceu quando ele ainda era um bebê. Sua mãe se casou novamente, mas a nova união não melhorou as coisas para o pequeno George, que continuava a limpar os quartos, lavar roupas e servir bebidas aos hóspedes da pensão de sua mãe.

No entanto, apesar de sua família não ser convertida ao Evangelho, Whitefield gostava de ler a Bíblia. Alguns historiadores afirmam que ele foi orientado a manter contato com a Escritura Sagrada por alguns clientes que passavam pela estalagem. Outros, no entanto, preferem atribuir o interesse de George pela Palavra a um milagre de Deus. O fato é que, desde cedo, ele demonstrou talento para a oratória. Alguns anos mais tarde, quando estudava no Pembroke College, em Oxford, Whitefield reunia com freqüência pequenos grupos de colegas em seus aposentos com o propósito de orar e estudar a Bíblia. Conta-se que não eram raras as ocasiões em que os presentes recebiam o batismo com o Espírito Santo.

Os biógrafos asseveram que ele dividia seu tempo livre de tal forma a ficar, aproximadamente, oito horas por dia em devoção a Deus. Na época, ainda jovem, trabalhava como garçom em bares noturnos como meio de sobrevivência. Naquele exato período de sua vida, o futuro pregador conheceu John Wesley e foi, então, que começaram a jejuar e a estudar a Bíblia. Whitefiel compilou alguns dos conceitos mais famosos de Wesley, dentre eles: A verdadeira religião é a união da alma com Deus e a formação de Cristo em nós.

Ainda muito cedo, Whitefield teve de voltar para a casa de sua mãe para poder recuperar-se de um problema respiratório que o assolou em todo o seu ministério.

Para não perder o objetivo da obra de Deus, entretanto, George Whitefield montou uma pequena classe de estudos Bíblicos e começou a visitar os pobres e doentes da região. Os membros de sua igreja não ficaram indiferentes aquele talento e, embora fosse norma não consagrar ao pastorado alguém com menos de 23 anos, Whitefield tornou-se ministro do Evangelho aos 21 anos, por insistência daquela igreja. Mesmo antes de cumprir sua determinação pessoal, de escrever cem sermões para, mais tarde, apresentá-los à igreja e pleitear sua ordenação, Whitefied aceitou o desafio.

Suas primeiras pregações como ministro do Evangelho foram tão intensas, que algumas pessoas se assustaram. Os anciões da igreja, no entanto, deram-lhe apoio e ele entendeu, naquele gesto, uma lição que escrevera para a posteridade:

Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa oportunidade como a última que me é dada de pregar; e a última dada ao povo para ouvir a Palavra de Deus. Curiosamente ele, raramente, pregava sem chorar: Vós me censurais por que choro. Mas como posso conter-me, quando não chorais por vós mesmos, apesar das vossas almas mortais estarem à beira da destruição? Não sabeis se estais ouvindo o último sermão, ou não, ou se jamais tereis outra oportunidade de chegar a Cristo, admoestava.

Essa paixão irresistível pela pregação da Palavra é a melhor explicação para alguns fenômenos, ou melhor, milagres espirituais que acompanhariam a carreira ministerial de Whitefield. Em 1750, por exemplo, ele conseguiu reunir dez mil pessoas, diariamente, nas ruas de Londres durante 28 dias, em um evento que, hoje, chamaríamos de cruzadas evangelísticas. Entretanto, a diferença é que ele pregava em uma época em que não havia microfones ou quaisquer outros recursos tecnológicos para ampliar o volume de sua voz. Jornais daquela época registraram que Whitefield podia ser ouvido por mais de 1 km, apesar de seu corpo franzino e de sua voz fraca, por causa dos problemas de saúde. Isso era um milagre de Deus com certeza.

Em outra ocasião, pregando a alguns marinheiros, Whitefield descreveu um navio no olho de um floração. O sermão foi apresentado de maneira tão real, que, no momento em que o pregador descrevia o barco afundando, foi interrompido pelo grito dos marinheiros apavorados com o que consideraram a própria visão do inferno.

Whitefleld, ao contrário do que muitos imaginavam, era um evangelista-missionário. Jamais quis abrir igrejas para levar seus milhares de convertidos. Pelo contrário: ele os orientava a procurarem igrejas locais. Isso porque, dizem seus biógrafos, sua missão evangelística tomava-o de tal forma que não havia nele qualquer interesse na abertura de templos ou em ter conforto. Nas 13 vezes em que realizou cruzadas evangelísticas nos Estados Unidos, Whitefield viajou, a princípio, para colaborar com o orfanato que abrira no estado da Geórgia. Ele adorava pregar para os órfãos e, para muitos deles, Whitefield era a única referência paterna.

Aos 65 anos de idade, já muito doente, Whitefleld ministrou durante duas horas para uma multidão que o esperava em Exeter, Inglaterra. Na mesma noite, partiu para a cidade de Newburysport, a fim de hospedar-se na casa do pastor local. Durante a madrugada, falou ainda com alguns colegas por cerca de 30 minutos e subiu as escadas para o seu dormitório. Lá, morreu, pregando a Palavra de salvação até o último minuto de vida ao seu companheiro de quarto.

Fonte: Revista Graça, ano 2 n.º 21 – Abril/2001 www.ongrace.com


JOHN HUS




John Hus nasceu por volta do ano 1370, na Boêmia - região que, no mapa geopolítico mundial, é ocupada, hoje, pela República Tcheca, país do Leste Europeu. Em 1400, foi ordenado sacerdote e, desde o início de seu ministério, quando assumiu o púlpito da Capela de Belém, em Praga, tomou-se um estorvo, um incômodo para alguns de seus colegas. Pregava insistentemente contra os privilégios do clero, e defendia a necessidade urgente de uma reforma religiosa. A eloqüência de suas pregações fez com que, rapidamente, boa parte da população o seguisse.

A nobreza também se rendeu ao seu discurso reformista e, há muito tempo, tentava encontrar uma forma de limitar o poder eclesiástico. Calcula-se que, na época, metade do território nacional boêmio pertencia à Igreja Católica, enquanto à Coroa cabia apenas a sexta parte. No mesmo período, com o apoio das autoridades, Hus traduziu o Novo Testamento para a língua boêmia e tornou-se um simpatizante das obras de John Wycliff (1329-1384), um reformador inglês.

Impedido de pregar - Influenciado por algumas das doutrinas wiclifistas, Hus pregava, dentre outros pontos, a autoridade suprema da Bíblia e a predestinação - doutrinas negadas, até hoje, pela Igreja Católica. Era a época em que existiam três papas comandando a Igreja, e ninguém sabia ao certo quem era o legítimo. Feito reitor da Universidade de Praga, Hus apoiava Alexandre V, eleito no Concílio de Pisa. No entanto, o arcebispo local era fiel a um outro papa - Gregório XII - e, por causa da disputa política, o arcebispo fez com que Hus fosse impedido de pregar.

Hus - que significa ganso na língua boêmia - não obedeceu à proibição e, por isso, foi excomungado em 1411. Entretanto, seu pior ato de insubordinação, e o que gerou sua condenação à morte, foi a crítica feroz a uma atitude do terceiro papa, João XXIII. Em guerra contra o rei de Nápoles, aquele papa decidiu financiar o conflito com a venda de indulgências (remissão de pecados mediante pagamento à Igreja com determinada quantia em dinheiro). Os vendedores chegaram à Boêmia, tentando usar todo tipo de método para persuadir seus "fregueses". Hus, imediatamente, protestou e afirmou que só Deus poderia conceder indulgências e ninguém jamais poderia vender algo que procede somente de Deus.

Seu discurso movimentou o país e até passeatas de protesto foram organizadas. Hus foi excomungado pela segunda vez, e mudou-se de Praga para o Sul da Boêmia, a pedido do imperador. Ele permaneceu lá, até que, em 1414, ficou sabendo da realização do concílio da igreja católico-romana de Constança, na Alemanha. O evento, que contaria com a presença de vários reformadores de renome, prometia inaugurar uma nova era na vida da Igreja, pois seria decidido quem era o papa legítimo. Hus foi convidado a expor seu caso e aceitou comparecer. Poucos dias após sua chegada a Constança, foi convidado pelo Papa João XXIII para uma assembléia composta apenas de cardeais. Hus insistiu que estava ali para defender suas idéias diante do concílio e não em uma reunião tão restrita. Antes não tivesse ido.

O boêmio saiu daquela assembléia acusado de heresia e, a partir de então, passou a ser tratado como prisioneiro. Em junho de 1415, finalmente foi julgado pelo concilio. Por aquela época, João XXIII já fora deposto, mas isso não melhorou a situação de Hus. O concilio lhe atribuía uma série de heresias, as quais ele teria de admitir ser o autor. No entanto, em momento algum, a direção do concilio se dispôs a ouvi-lo sobre quais seriam, de fato, suas doutrinas. Hus, obviamente, recusou-se a retratar-se de doutrinas que não havia propagado e, assim, foi condenado à fogueira.

No dia 6 de julho, ele foi levado até a Catedral de Constança para ouvir um sermão sobre a teimosia dos hereges. Em seguida, teve seus cabelos cortados, uma cruz foi desenhada em sua cabeça, e recebeu uma coroa de papel decorada com desenhos de diabinhos. Mais uma vez, exigiram que Hus se retratasse, mas ele não voltou atrás. Atribui-se a Hus as seguintes palavras:

"Estou preparado para morrer na Verdade do Evangelho que ensinei e escrevi". Hus morreu cantando os Salmos, e sua morte deflagrou uma verdadeira revolução contra a Igreja na Boêmia.

Recentemente, o Papa João Paulo II reconheceu o erro de seus "infalíveis" antecessores. Em dezembro de 1999, o líder católico pediu desculpas - embora demasiadamente tardias - pela morte de Hus. Na ocasião, falando sobre o reformador tcheco em um simpósio internacional promovido pelo Vaticano, João Paulo II afirmou: "Hoje, às vésperas do Grande Jubileu, sinto a necessidade de expressar profundo arrependimento pela morte cruel infligida a John Hus e pelas conseqüentes marcas de conflito e divisão deixadas nas mentes e nos corações do povo boêmio".

Fonte: Revista Graça – Julho / 2000 (Élidi Miranda)


JOHN WESLEY




Em 28 de junho de 1703 nascia em Lincolnshire, na Inglaterra, o fundador da Igreja Metodista Wesleyana: John Wesley, cuja esposa chamava-se Susanna, era o 12º dos dezenove filhos do reverendo Samuel Wesley, um pároco de Epworth.

Quando completava seis anos, quase perdeu a vida num incêndio à noite, provocado por um grupo de malfeitores. O fogo se alastrava no teto de palha da paróquia onde eles moravam, começando a estilhaçar brasas sobre as camas. Subitamente, Hetty Wesley, um dos irmãos menores, acordou assustado e correu até o quarto de sua mãe. E logo todo mundo estava em pé, tentando conter o domínio das chamas, enquanto a pequena criada, agarrando o bebê Charles nos braços, chamava as crianças para um lugar mais seguro. A essa altura, Twice Susanna Wesley forçava a porta contra as costas, numa tentativa desenfreada de proteger-se.

A família finalmente conseguiu sair de casa e, apavorada, reuniu-se no jardim, pois descobrira que o pequeno Jeckie havia ficado lá dentro dormindo. Voltaram correndo, mas era tarde: a escada estava em cinzas e tornava impossível resgatá-lo. O rapaz chegou até aparecer na janela, porém não podiam segurá-lo, visto que a casa ficava no segundo piso. Todavia, um pequeno homem pulou sobre o largos ombros do pai de Wesley e, num esforço desmedido, conseguiu salvar a criança.

Um Estudante de Cristo

Consequentemente, uma profunda ternura passou a residir no coração de Jackie que, mesmo depois de homem, considerava que havia escapado aquela noite porque Deus tinha um propósito muito especial em sua vida. Várias vezes ele chegou a comemorar este dia em seu diário secreto que escreveu: "Arrancado das Chamas".

Seis anos depois, em Charter House School, Jeckie matriculou-se na Universidade em Oxford, tornando-se um estudante da igreja de Cristo. Quatro anos mais tarde graduou-se em bacharel de artes e em 1726 foi eleito acadêmico do Colégio Lincoln.

Enquanto John Wesley era ordenado ao ministério e ajudava o pai em casa, Charles, o irmão mais novo, organizava em Oxford um pequeno grupo de estudantes para orações regulares, estudos bíblicos e outros serviços cristãos. O Clube Santo, como era chamado, incluía vários integrantes, que, mais tarde, tornaram-se pioneiros de um avivamento, ocorrido no século XVIII, destacando-se, entre outros, George Whitfield.

Obedecendo ao Senhor, John Wesley viajou para colônia em Georgia, como capelão, em 1736. Charles nesta época, era secretário do governador e o piedoso trabalho em Georgia, embora com muitas lutas, teve sucesso mais tarde. O reverendo George Whitfield, depois de visitar a sede do movimento, escreveu: "O eficiente trabalho de John Wesley na América é impressionante. Seu nome é muito precioso entre o povo, pois tem edificado as fundações que, espero, nem homens nem demônios a abalem".

Aprendendo a Confiar

Em contato com German Moravian Christians na América, Wesley questionava sobre as verdades cristãs. Sabia muito bem que o êxito de seus trabalhos estava nas mãos de Deus e, por isso, começou a buscá-lo em oração. Não demorou muito tempo e, em 24 de maio de 1738, acabou encontrando a resposta quando, de volta para a Inglaterra, resolveu registrar tudo quanto acontecera naquele dia: "A tarde, visitando a sociedade em Aldersgate Street, li o ‘Prefácio da epístola aos Romanos’ na versão de Lutero, cujas palavras tocaram-me profundamente. Senti meu coração bater fortemente. E, desde aquele momento, aprendi a confiar em Cristo como meu Salvador. Estou seguro de que os meus pecados estão perdoados. Me salvei da lei do pecado e da morte". Esta experiência mudou o rumo da vida de Wesley que, a partir daquele momento, passou a ser uma nova criatura, sendo consagrado o maior apóstolo da Inglaterra.

John Wesley começou o trabalho de pregação ao ar livre quando viajava para Bristol a fim de ajudar George Whitfield, que na época era conhecido como o mais eloquente pregador da Inglaterra. Wesley, a princípio, rejeitou a idéia, mas uma vez convencido da vontade de Deus, acabou se tornando mais famoso que Whitfield. Viajava 11 quilômetros por ano. Experimentou os mais cruéis sofrimentos e oposições em toda sua vida. Estava frequentemente em perigo.

Embora fosse sábio e proeminente, o itinerante evangelista era um homem simples e executou muitas obras sociais. As suas poderosas mensagens muito influenciaram a igreja que, no ano de 1739, adquiriu uma sede para o movimento protestante, que crescia vertigiosamente. Comprou uma casa de fundição em ruínas, na cidade de Moofield, e transformou-a num templo. O prédio passou por uma rigorosa reforma que custou, na época, 800 libras (quantia superior ao da compra que foi de 115 libras), mas valeu a pena. Depois de pronta, a capela passou a comportar cerca de mil e quinhentas pessoas.

Era o primeiro edifício metodista em Londres, onde a verdadeira doutrina de Cristo era proclamada. Pessoas sedentas por ouvir a gloriosa mensagem do evangelho cruzavam todos os domingos a escuridão das estradas de Moorfield com lanternas, para ouvir os ensinamentos de Wesley. O prédio dispunha de sala de reuniões, com capacidade para 300 pessoas, sala de aula e biblioteca.

Mais tarde, John Wesley instalou a sua própria casa na parte superior da capela, onde passou a morar com a sua família. Em 1746, abriu um centro de atendimento médico e escola gratuitos, com capacidade para 60 estudantes, contratou farmacêutico, cirurgião e dois professores e, em 1748, alugou uma casa conjugada para refugiar viúvas e crianças.

Muitos foram os patrimônios conseguidos pela igreja durante os 40 anos do movimento metodista em Moorfield, organizada por John Wesley. Entretanto, devido a expiração do contrato imobiliário, a sede teve de mudar-se para um outro lugar.

Próximo dali, em City House, encontrava-se um vasto campo onde jaziam os túmulos de Bunhill Field e o de sua esposa Sussana Wesley. Um lugar de pântanos, recentemente aterrado, onde foi construída a catedral de Saint Paul. Havia também no local algumas pedras de moinho, utilizadas para moer milho trazido do Thames, que era transformado em trigo.

John Wesley alugou quatro mil metros quadrados destas terras em 1777 para construir a nova capela. E, finalmente, em 21 de abril do mesmo ano, sob forte chuva, lançou a pedra fundamental, com a seguinte gravação: "Provavelmente, esta pedra não será vista por algum olho humano, mas permanecerá até que a terra e o trabalho sejam consumados". Naquele dia, Wesley improvisou um púlpito sobre a pedra e pregou em Nm 23.23.

A Recompensa

Em 1 de novembro de 1778, dezoito meses depois, no Dia de Todos os Santos, a capela estava próxima de ser aberta para a adoração pública. Apesar dos ventos das dificuldades (além de ter contraído muitas dívidas, os trabalhadores tiveram as ferramentas roubadas), Deus recompensou grandemente o esforço de Wesley, levantando voluntários dentre os membros. O rei George III, por exemplo, doou mastros de navios de guerra para o suporte das galerias.

Conta a história que um certo dia Wesley ficou de um lado do templo e Taylor, um dos cooperadores do outro, com os chapéus nas mãos, e conseguiram arrecadar 7 libras; o suficiente para a conclusão das obras. Toda a galeria foi coberta com gesso e os bancos de madeira de carvalho, doadas pelas igrejas da América, Canadá, Sul da África, Austrália, Oeste da Índia e Irlanda. As janelas vitrificadas, as impressões no teto foram trabalhados no estilo Adams (réplica antiga), e a casa de Wesley construída num pátio em frente à capela. Estas raridades, depois de reformadas em 1880, no centenário da morte de Wesley, memorizam as epopéias deste bravo soldado de Cristo.

Sua Morte

Mesmo depois de velho quase cego e paralítico, John Wesley continuava pregando em City Road e Latherhead. E, quando percebeu que sua vida estava chegando ao fim sentou-se numa cama, bebeu um chá e cantou:

"Quando alegre eu deitar este corpo e minha vida for coroada de bênção, quão triunfante será o meu fim!

Eu glorificarei a meu Criador enquanto tenho fôlego;

E, quando a minha voz se perder na morte, empregarei minhas forças; em meus dias o glorificarei enquanto tiver fôlego até o fim de minha existência".

Wesley foi enterrado no Jardim-túmulo, em frente à capela em City Road, sob as luzes das lanternas, na manhã de 2 de março de 1791. Morreu com os olhos abertos e balbuciando a seguinte palavra: "Farwell" (adeus). Cerca de 10 mil pessoas acompanharam o funeral. E a lápide até hoje indica o significado histórico: "À memória do venerável John Wesley: o último companheiro do Lincoln College, Oxford..."

Fonte: Revista Obreiro Aprovado (Fev/Mar 1996)

Heróis da Fé. (Exemplos a serem seguidos)

Charles Thomas Studd



Charles Thomas Studd (1860-1931) poderia ter sido mais um atleta que gastou seus dias em árduas competições e apenas isso. Entretanto, sua biografia demonstra que quando Deus toca o coração de alguém, seus rumos e planos são mudados dramaticamente, de uma maneira maravilhosa.

O inglês Charles Studd era considerado um dos maiores desportistas do final do século 19. Milionário, ele herdara da família a importância de 29 mil libras esterlinas, uma fortuna naquela época, mas se recusara a tirar proveito dela, temendo que o dinheiro pudesse atrapalhar seus nobres ideais. Determinado a investir na obra de Deus, enviou cinco mil libras esterlinas para o missionário James Hudson Taylor, que se tomou uma lenda ao ser o primeiro a levar a Palavra ao interior da China; outras cinco mil libras para um pastor, William Booth, fundador do Exército da Salvação; cinco mil para Dwight L. Moody, para que este iniciasse o estabelecimento do Instituto Bíblico Moody.

Studd doou ainda outras importâncias, sobrando-lhe apenas 3.400 libras, as quais ele, no dia do seu casamento, deu à esposa. Esta também doou o presente e comentou, na época: Jesus pediu ao jovem rico que desse tudo aos pobres. E Studd completou: Agora nos achamos na situação de poder dizer que não possuímos nem prata nem ouro, referindo-se ao texto de Atos 3.6. Loucura? Não. Charles Thomas Studd tinha a certeza de que o Senhor era o dono de todas as coisas. Essa demonstração de entrega total foi apenas o começo. Todavia, foi o suficiente para que o Senhor desse a Charles um novo rumo. Mais tarde, Ele o chamaria para o ministério.

Studd viajou para a China, onde trabalhou como missionário. Posteriormente, foi para a Índia e para o continente africano. Seu pensamento era: "Se Jesus é Deus e Ele morreu por mim, então nenhum sacrifício pode ser muito grande para nós". Como resultado de seus esforços, foi fundada, um pouco antes de sua morte, a Cruzada de Evangelização Mundial, que hoje conta com mais de mil missionários em todo o mundo. A mensagem deixada por Studd foi simples: enquanto a maioria investe em bens materiais, outros investem no Reino de Deus.

Família - Essas lições de Charles Studd foram aprendidas desde muito cedo. Ele era filho de um fazendeiro de origem indiana, Edward Studd, que se havia aposentado na Índia e mudado para uma casa rural no município de Tidworth, em Wiltshire, Inglaterra.

O pai de Studd, curiosamente, tinha-se convertido em 1877, quando um amigo o levou para ouvir uma pregação de Moody, o mesmo pastor que seria ajudado por seu filho, Charles Studd, anos mais tarde. Após a conversão, Edward, imediatamente, deixou as atividades seculares e passou a usar sua casa para reuniões evangelísticas até o dia de sua morte, em 1879.

Charles Studd e seus dois irmãos, Kynaston e George, estudavam longe de casa. Curiosamente, os três converteram-se a Cristo em um culto doméstico, e terminaram apaixonados pelo Evangelho. Os três irmãos eram campeões de críquete, um dos esportes mais tradicionais da Inglaterra. As habilidades excepcionais mostradas por Charles Studd naquele esporte fizeram com que ele ganhasse um lugar na seleção inglesa, em 1882, época em que a equipe havia perdido uma partida para a Austrália e estava desacreditada. Sob a liderança de Charles Studd, os ingleses jogaram na Austrália, no ano seguinte, e recuperaram o troféu.

Tempo de confrontação - Dois anos após a conquista do campeonato, no entanto, com a doença e morte de George, Charles Studd sentiu-se confrontado pela seguinte pergunta: De que adiantam toda a fama e valor de lisonja quando um homem tem de enfrentar a eternidade? Ele percebeu, então, que sua conversão, ocorrida seis anos antes, não havia produzido frutos. Resoluto, ele declarou: O críquete não vai durar; a honra também não, bem como nada neste mundo. Mas tenho que viver para o mundo que há de vir.

A partir de então, Charles começou a testemunhar de Jesus aos amigos e jogadores da mesma equipe. Sua intenção era captar recursos para o ministério de seu irmão, Kynaston, que tinha fundado uma organização missionária entre estudantes. Logo, ele teve a alegria de conduzir outros a Deus.

Até aquele momento, Studd testemunhara entre os próprios sócios e amigos. Contudo, depois de ouvir, na China, uma pregação na qual um missionário falara da necessidade de os servos de Deus agirem como pescadores de almas, tudo mudou. Ele sentiu que Deus o estava chamando. Embora seus amigos e parentes tentassem dissuadi-lo, Charles começou a considerar a pregação que ouvira e marcou uma reunião com o Pr. James Hudson Taylor, o diretor da missão no interior da China.

Rumo à China - A decisão de Studd foi seguida por mais seis amigos dele. Ao mesmo tempo em que o grupo se preparava, uma onda de conversões ocorria entre os estudantes das maiores Universidades da Grã-Bretanha, graças à missão fundada por Kynaston, anos antes. Alunos de Edimburgo, Londres, Oxford e Cambridge entregavam-se ao Senhor como jamais ocorrera antes. Eles se transformariam, anos depois, nos missionários que difundiriam a Palavra de Deus pelo mundo. Em pouco menos de dois meses, Studd e alguns amigos já estavam prontos para a viagem à China.

Lá, Charles Studd passou dez anos. Quando, finalmente, retomou à Inglaterra, ele foi convidado a visitar a América, onde Kynaston havia organizado um movimento evangelístico entre os estudantes locais. Durante aquela excursão, ele testemunhou o derramar de bênçãos poderosas em muitas faculdades e igrejas. Aquilo mexeu tanto com Studd, que ele iniciaria uma seqüência de viagens missionárias impressionante.

Missões na Índia e na África - De 1900 a 1906, Studd pastoreou uma igreja em Ootacamund, no Sul da Índia. Naquela região, diversos funcionários britânicos se converteram a Cristo. Depois de um rápido retomo à Inglaterra, ele partiu, em 1910, para o Sudão, na África. Studd ficara impressionado com o fato de a Palavra ser quase totalmente desconhecida na África Central, e lá fundou uma missão, a Heart of Africa Mission (Missão Coração da África).

Em sua primeira viagem ao Congo Belga*, em 1913, ele estabeleceu quatro missões em uma área habitada por oito tribos diferentes. A partir dali, Charles começaria a viajar sozinho — sua esposa ficara doente. Entretanto, o trabalho do Senhor e o chamado da família não mudaram. De sua casa, na Inglaterra, ela e as quatro filhas do casal coordenavam o ministério de Studd. Sua esposa era a responsável por missões em diversos países da África, do Oriente Médio e da China.

Ela fez uma última visita ao Congo em 1928, reviu o marido e faleceu pouco tempo depois. Em 1931, aos 70 anos, Charles Thomas Studd morreu, entretanto, até os seus últimos dias, ele pregou a salvação pela fé em Jesus Cristo, no campo missionário, em Málaga, na África. Foi, de fato, um gigante. Um herói da fé.

* (Até 1971, este país tinha o nome de Congo Belga. Depois, Mobuto Sese Seko o batizou com o nome de Zaire. Em 1997, passou a se chamar República Democrática do congo)

Autor: Marcelo Dutra


James Hudson Taylor
O Homem que Amou o Senhor e a China



James Hudson Taylor nasceu em 1832, em Barnsley, Inglaterra, filho de um sacerdote metodista. Com dezesseis anos, creu em Cristo como seu Salvador, numa tarde em que estava sozinho em casa e entediado. A vida religiosa dos pais não o atraía e ele desejava muito os prazeres do mundo. Passando os olhos pela biblioteca do pai, procurando algo com que se distrair, pegou um livro que falava sobre o Evangelho e começou a lê-lo. No mesmo instante, sua mãe, a mais de cem quilômetros de distância, era conduzida por Deus para orar pela salvação do filho. Taylor orou e a oração de sua mãe foi respondida: ele se rendeu ao Senhor. Oração tornou-se, posteriormente, uma das mais preeminentes marcas de seu serviço e ministério.

Desde então, sentiu-se chamado para pregar o Evangelho na China. Por isso, passou a preparar-se dormindo sobre uma esteira, abrindo mão de qualquer luxo, vivendo com o mínimo de alimento necessário e dependendo exclusivamente do Senhor para seu sustento. Assim, aos dezenove anos, Taylor aprendeu que poderia confiar em Deus e obedecer-Lhe em qualquer área de sua vida - aprendeu que se pode levar a sério Deus e Sua Palavra.

Após estudar medicina e teologia, foi para a China em 1854 como um missionário assalariado pela Sociedade para Evangelização da China.

Em 20 de janeiro de 1858, após trabalhar num hospital por quatro anos, ele casou com Maria Dyer (1837? - 1870), missionária, filha de um dos primeiros missionários para a China. Eles tiveram oito filhos, quatro dos quais morreram com menos de dez anos. Por ser ela fluente no dialeto ningpo, ajudou Hudson no trabalho de tradução do Novo Testamento, no que ele investiu cinco anos. Essa tradução foi realizada na Inglaterra e, em 1866, Taylor retornou a China com dezesseis outros missionários e fundou a Missão para o Interior da China (MIC).

Em 1870, sua esposa e dois de seus filhos morreram de cólera. Maria era uma torre forte e um conforto para o marido. Nas palavras dela, ela era "mais intimamente instruída que qualquer outra pessoa com as provações, as tentações, os conflitos, as falhas e quedas e as conquistas" do marido.

Em 1871, Taylor casou-se com Jennie Faulding (1843 - 1903), missionária da MIC. Eles tiveram dois filhos, incluindo Howard, o biógrafo do pai e autor de O Segredo Espiritual de Hudson Taylor (Editora Mundo Cristão). Jennie cuidou do marido em meio a injúrias e doenças, editou o periódico China’s Millions da MIC e tinha um ministério especial entre as mulheres. Nos últimos anos de vida, ela viajou com Hudson, além de falar e escrever e organizar o trabalho da Missão. Partiu para o Senhor em 1904.

Hudson permaneceu na China e quando dormiu no Senhor, em Changsha, em 1905 (antes que os comunistas tomassem o país que ele tanto amava), havia lá deixado 250 pontos missionários com 849 missionários da Inglaterra e 125.000 chineses cristãos dando testemunho do Evangelho. Sua vida é um dos mais impressionantes registros da história do evangelismo e um dos maiores testemunhos da fidelidade do Senhor e a Ele.

(Extraído do livro Cântico dos Cânticos - O Misterioso Romance. © Editora dos Clássicos, 2000.)



Adoniram Judson



Amor pelas letras e pelas almas
O missionário Adoniram Judson levou o Evangelho até a Ásia e traduziu a Bíblia para o birmanês

A história desse personagem é contada até hoje. Era o ano de 1824. Os oficiais do rei da Birmânia (atual Mianmar) - pais que fica às margens do Golfo de Bengala, no Sudeste Asiático tinham acabado de saquear o lar missionário de Adoniram e Ann Judson. levando tudo o que acharam de "valioso". No entanto, o tesouro mais precioso havia passado despercebido: o manuscrito de uma porção da Bíblia, traduzida por Adoniram Judson, que sua esposa Ann enterrara sob a casa.

Acusado de espionagem, Adoniram, um missionário magro e de corpo pequeno, ficou encarcerado por quase dois anos em uma prisão infestada por mosquitos. Ele e outros 60 condenados à morte ficaram encerrados em um edifício sem janelas, escuro, abafado e imundo. Durante aquele período, sua esposa conseguiu entregar-lhe um travesseiro - para que ele pudesse dormir melhor no duro chão de areia da prisão -, além de livros, papéis e anotações que ele usava para continuar a tradução da Bíblia para O birmanês. Dentro da cadeia, além das traduções, que ele escondia dentro de seu travesseiro, Adoniram evangelizava os presos.

O episódio descrito é parte da história do americano Adoniram Judson (1788 - 1850), o primeiro missionário cristão na Birmânia, que, por 30 anos, perseverou em seu trabalho de evangelização, apesar das doenças e perseguições constantes que sofria por pregar o Evangelho naquele país.

Em 1819 - seis anos depois de sua chegada à Birmânia -, Judson conseguiu seu primeiro convertido. Dois anos depois, já havia uma igreja fundada no país, com 18 batizados. Em 1837, havia 1144 convertidos batizados na Birmânia. Em 1880, esse número passou a sete mil, distribuídos por 63 igrejas. Em 1950, cem anos depois de sua morte, existiam mais de 200 mil cristãos na Birmânia, em sua maioria, resultantes da mensagem que Judson deixara naquele país. Dizia ele: "Muitos cristãos consagrados jamais atingirão os campos missionários com seus próprios pés, mas poderão alcançá-los com os seus joelhos."

Vida e Obra - Aquele amor à Palavra de Deus tinha história. Adoniram Judson nasceu em Malden, no estado americano de Massachussetts. Filho do pastor congregacional Adoniram Judson e de Abigail Brown Judson, o jovem Adoniram trabalhou duro em um moinho do pai. Tinha de caminhar muito até chegar à escola e tinha intensa devoção à Igreja.

Sua mãe ensinou-lhe a ler um capítulo inteiro da Bíblia quando tinha apenas quatro anos. Nos anos seguintes, freqüentou a New London Academy e depois a Brown University, onde entrou com apenas 16 anos. Naquele período em que o ateísmo, proveniente da França, chegava com força aos Estados Unidos, o jovem Adoniram teve uma crise existencial. Recém diplomado, aos 19 anos, ele surpreendeu os pais quando disse que não mais acreditava na existência de Deus e que iria escrever peças de teatro. Era o ano de 1807.

Saiu de casa, mas, quando seguia para a casa de um tio, teve uma experiência que mudou sua vida por completo. No fim de uma noite, procurou um lugar para dormir em uma pensão. O proprietário disse que só tinha um quarto que ficava ao lado de outro em que estava uma pessoa muito doente. A voz agonizante de um homem no quarto ao lado só o deixou dormir no fim da madrugada. Ao acordar, Adoniram soube que aquele homem havia morrido, e tomou um susto ao saber que se tratava de Jacob Eames, um cético e descrente que ele conhecera na faculdade; e que também abandonara o Evangelho pelos ideais ateístas.

A notícia da morte de Eames atingiu seu coração como uma flecha. Foi, então, para Plymouth, onde assistiu a dezenas de palestras de pregadores cristãos. Em 1808, decidiu estudar para o ministério e entrou no seminário teológico de Andover. No ano seguinte, fez uma profissão pública de fé na igreja do pai e sentiu o desejo de tornar-se missionário.

Na época, escrevia a Ann, então sua noiva: Em tudo que faço, pergunto a mim mesmo: Isto agradará ao Senhor? [...] Hoje, tenho sentido grande alegria perante o Seu trono.

Os pais de Judson queriam que ele aceitasse pregar em uma igreja de Boston, mas recusou o convite. Tinha o mundo em seu coração. Em fevereiro de 1810, fundou, com quatro amigos pastores, a Junta Americana de Missões Estrangeiras, ligada à Associação Geral de Ministros Congregacionais de Bradford, em Massachussetts.

Casou-se com Ann em 5 de fevereiro de 1812, e apenas 12 dias depois, o casal partiu para Calcutá, na Índia, junto com os quatro pastores amigos de Judson. Ann tornou-se, então, a primeira missionária a deixar os EUA. Durante a viagem, dedicaram-se ao estudo das Escrituras. No entanto, ao chegarem a seu destino, a guerra fez com que eles deixassem o país. Como havia uma embarcação pronta para ir a Rangum, na Birmânia, o casal decidiu viajar nela. O percurso não foi fácil. Ann, que estava grávida, adoeceu no navio. Deu à luz seu primeiro filho, que morreu em seguida. Eles chegaram a Rangum exaustos, em julho de 1813. Ann, muito adoentada, desembarcou em uma padiola. Aquela experiência era uma prévia do que o casal ainda haveria de enfrentar.

Saída da prisão - A experiência na prisão, relatada no início desta biografia, não foi o único problema enfrentado pelo casal Judson na Birmânia. Depois de sair da cadeia - indultado pela Alta Corte de Justiça do reino birmanês, em novembro de 1825 -, viu a segunda filha do casal, Maria, morrer de febre amarela. Em outubro de 1826, Ann faleceu, também vítima da doença.

Adoniram mudou-se, então, para o interior da Birmânia, onde completaria a tradução do Antigo Testamento para o birmanês, em 1834, no mesmo ano em que se casou pela segunda vez, com Sarah, com quem teve oito filhos. Em 1837, Adoniram concluiu a tradução do Novo Testamento. Em 1845, Sarah faleceu, e ele retornou aos Estados Unidos, 33 anos depois do início de sua viagem à Ásia. Tanto interesse gerado por sua experiência na Birmânia rendeu a Judson uma platéia i inesperada. Grandes multidões corriam para ouvi-lo pregar em solo americano, pois se tornara uma lenda.

Em junho de 1846, casou-se pela terceira vez, com a escritora Emily Chubbock, e voltou no ano seguinte para a Birmânia para revisar mais uma vez o dicionário hirmanês-inglês que concluíra em 1826.

Muito doente, Judson foi aconselhado a fazer uma viagem marítima para se recuperar, mas veio a falecer no navio, em 12 de abril de 1850. Emily morreu quatro anos depois. Mas a frase que ele mais repetia em suas pregações tornou-se uma realidade: Eu não deixarei a Birmânia até a mensagem da cruz ser plantada aqui para sempre. Palavras proféticas de um verdadeiro herói da fé.

Autor: Marcelo Dutra


Charles Wesley



A Palavra registrada nas partituras
Charles Wesley, que compôs mais de seis mil hinos, não só acompanhou seu irmão John Wesley nas cruzadas, como também é considerado o maior compositor do reavivamento Wesleyano

É certo que o talento não é hereditário, mas é fato que sempre existiram vários casos de irmãos que se tornaram famosos graças aos dons incomuns nas áreas mais variadas. Eles brilham na mesma época e até em profissões semelhantes. Na História da Igreja, uma dupla de irmãos, John e Charles Wesley, não fez por menos. Escolhidos por Deus para a missão de pregar Sua Palavra como evangelistas, eles fundaram o metodismo no século 18. Aquela semente deu frutos – atualmente (2002) os metodistas formam uma comunidade de, aproximadamente, 80 milhões de pessoas em todo o mundo, embora a maior parcela concentre-se nos Estados Unidos.

John Wesley tornou-se o mais famoso dos pregadores por falar e escrever com rara eloqüência. No entanto, Charles Wesley (1707-1788), seu irmão mais novo, não apenas deu suporte àquele ministério, apoiando e criticando John quando necessário, como também fez das partituras seu principal púlpito. Charles Wesley é considerado o grande compositor do reavivamento wesleyano: compôs mais de seis mil hinos, que eram cantados em cruzadas evangelísticas. Muitos deles causaram estranheza por terem influência dos ritmos populares, comuns nas tavernas e casas de ópera da Inglaterra.

Não foi à toa que, certa vez, alguém escreveu que, se George Whitefield ficou conhecido como o orador do metodismo, e John Wesley seu organizador, podia-se afirmar que Charles Wesley foi seu poeta.

Vida o obra - O poeta Charles nasceu em 18 de dezembro de 1707, na cidade de Epworth, no condado de Lincolnshire, na Inglaterra. Filho de Samuel, reitor da Faculdade de Epworth, e de Susanna Wesley, Charles foi marcado por Deus para uma obra muito específica desde cedo. Tinha apenas um ano e três meses de vida quando o prédio da reitoria da faculdade foi totalmente destruído pelo fogo. Charles, assim como John, foi resgatado do verdadeiro inferno em que se transformou o edifício tomado pelas chamas.

Na adolescência, enquanto John estudava na Escola de Charterhouse, Charles foi estudar na Escola de Westminster, mesmo colégio do irmão Samuel. Lá, provou ser um excelente aluno. Criado sob rígida educação familiar evangélica, Charles fora ensinado a defender a justiça e, por isso, logo se envolveu em diversas causas na escola.

Não houve, entretanto, alguém que pudesse duvidar do impacto da experiência de sua conversão, em 1738, aos 31 anos. Sua vida espiritual logo se voltou para a compaixão pelos homens perdidos. Assim, pregou de improviso pela primeira vez na Igreja de Saint Antholin, em Bristol.

No ano seguinte, tornou-se publicamente defensor do ministério do grande pregador George Whitefield, que, embora tivesse grande impacto, era alvo de críticas ferozes em Londres e em Bristol. Charles Wesley juntou-se a Whitefield quando este falou a uma enorme multidão na cidade de Blackheath sob o título: "O que Satanás tem ganhado ao manter você fora das igrejas?" Charles Wesley repetiria o feito ao lado de seu irmão John, à frente de multidões nas vilas da região inglesa de Essex.

"Sua pregação era como um trovão e um relâmpago", diziam os primeiros metodistas a respeito da retórica de Charles Wesley. Mas sua força não estava apenas na pregação: sua música tornou-se, de fato, sua melhor ‘retórica’. Em 1739, a primeira seleção de seus hinos foi publicada e tornou-se logo muito popular.

Seus hinos - Os hinos de Charles possuíam uma mensagem fundamentada na piedade cristã, própria para as reuniões devocionais e também para os grandes agrupamentos ao ar livre. Eles destacavam o fervor da fé e tornavam a mensagem inesquecível.

Suas composições eram inspiradas nas melodias seculares de Purcell e de Haendel e, embora destinadas a congregações, eram editadas como solos. Eram melodias populares ou adaptadas da música das óperas que abundavam na época. A contextualização da música dos hinos de Wesley chocou muitos elementos conservadores da Igreja, mas foi bem aceita pelo povo.

Seus hinos também eram fundamentados no lema da Reforma Protestante - Sola Scriptura (Só as Escrituras) - ou seja, enfatizavam que a Bíblia é a única regra de fé do cristão. Charles Wesley também escreveu hinos para combater a concepção calvinista da predestinação, como Redenção universal, e ainda chegou a pregar um sermão intitulado Graça gratuita.

Escreveu hinos para as grandes festas da igreja, como os conhecidíssimos Cantam anjos harmonias e Cristo já ressuscitou, aleluia. Preocupou-se também com um acervo de hinos para os sacramentos da igreja, como a Santa Ceia, e com a koinonia (a comunhão cristã), à época, principal base do crescimento da Igreja Metodista.

Paralelamente à música, Charles Wesley investiu todo o seu tempo para salvar os homens distantes de Deus. Charles, assim como seu irmão John, não deu importância nem mesmo às pressões eclesiásticas e viajou muito, especialmente para a Irlanda, a Escócia e o País de Gales. Ao lado do irmão, Charles pregou contra o consumo de bebidas alcoólicas, a guerra e a escravidão, e incentivou a medicina humanitária, a abertura de novas escolas e uma reforma penitenciária. Mesmo com a "agenda" tão cheia, Charles arrumou tempo para casar-se, em abril de 1749, com Sarah Gwynne. O casal se estabeleceu em Bristol, mas sempre que podia Sarah acompanhava Charles em suas excursões de pregação da Palavra.

Seus contemporâneos ficavam espantados ao ver seu ministério itinerante, que também incluiu os Estados Unidos, onde, em 1760, fundou com John as primeiras missões metodistas. Naquele tempo, o metodismo era um fenômeno.

Lição do vida - Em 1771, depois de centenas de idas e vindas, Charles e Sarah, então, mudaram-se para Londres. O ministério de Charles continuou, embora mais voltado para o âmbito local. Em Londres, eles também puderam ver muito mais de perto o crescimento dos dois filhos, Charles e Samuel, músicos excepcionais que se tornaram "alvos" de muitos convites para concertos.

Em 1786, já com 79 anos, Charles Wesley, que já percorrera 365 mil quilômetros em seu ministério e havia participado de 46 mil cultos, cruzadas e reuniões evangelísticas, assumia novas responsabilidades na igreja. Foi ele quem enviou, naquele ano, os primeiros missionários metodistas para a Índia.

Quase dois anos depois, Charles Wesley faleceu. O dia 29 de março de 1788, data de sua morte, tornou-se, entretanto, apenas mais um fato dentro de uma história de vitórias e de milhares de hinos cantados até hoje. Ele também deixou para todos os cristãos uma lição de vida e amor ao Evangelho, além de uma marca pessoal indelével. Dizia-se dele: "Se houve um ser humano que repugnou o poder, a proeminência e encolhia-se ao elogio, esse foi Charles Wesley". Um verdadeiro herói da fé.

Fonte: Marcelo Dutra (Revista Graça ano 03 nº 35)


William Carey
Um missionário a ser lembrado




Inglaterra, século XVIII. Um sapateiro e pregador leigo chamado William Carey sente-se chamado para o trabalho transcultural na Índia. Após muito trabalhar, Carey conseguiu comprar as passagens e embarcou para a Índia numa viagem de navio que durou 5 meses, juntamente com sua esposa Doroty e cinco filhos, o menor com cerca de 3 meses de idade. Permaneceu naquele País durante 41 anos. Traduziu a Bíblia inteira para o Bengalês, Sanscrito e Marathí, e o Novo Testamento para várias outras línguas; fundou escolas cristãs, foi usado na conversão de grande número de hindus e na formação de várias Igrejas, além de discipular vários pregadores nativos. Sem dúvida, ele fez a Índia sentir a mensagem do Evangelho, porém, nestes 41 anos de trabalho Missionário. o que poucos sabem é que ele e sua família tiveram tempos críticos: doenças, mortes, fome, falta de um teto onde pudessem dormir e a falta de sustento financeiro por parte de inúmeras igrejas Inglesas. Mas não esmoreceu. Através de suas habilidades e profissões, conseguiu diversos empregos. Mas a Igreja Inglesa perdeu uma rica oportunidade de financiar a Evangelização da Índia.

Hoje Carey é chamado de "O Pai das Missões Modernas", e, entre os poucos na Inglaterra que auxiliaram a obra, haviam duas mulheres que reconheceram nele a vontade de DEUS naquele país, e o sustentaram naquela obra de Evangelização.

Será que você pode fazer várias coisas de uma só vez e fazer todas bem feitas? William Carey, uma menino inglês, aprendeu fazer sapatos com seu pai. Certo dia encontrou um Novo Testamento escrito com letras estranhas. Ao indagar seu idoso professor, ele lhe explicou que eram palavras gregas.

William ficou tão interessado na língua antiga que procurou outros livros escritos em grego até que aprendeu a ler esta língua. Ele sustentava a família fazendo sapatos e ao mesmo tempo estudava outras línguas tais como Hebraico, Latim, Grego, Alemão e Francês.

- Talvez algum dia Deus vai me usar. Não devo perder tempo - pensou ele.

William tornou-se professor. Durante o dia ensinava e continuou fazendo sapatos à noite. Ensinando, fazendo sapatos e estudando. Fazia tudo de uma vez e não tinha tempo a perder!

Ensinava em uma classe de geografia um dia, quando teve uma idéia e arrumou pedaços de couro de várias cores, emendou-os um ao outro, fazendo um globo do mundo. Ele o pendurou na sua sala de aula. Enquanto ele olhava os países, reconheceu que existiam outras línguas que ele não conhecia. Então começou a estudar Holandês e Italiano estando logo apto para ler e falar em oito línguas. Enquanto estudava o globo, Deus começou a falar ao seu coração dando-lhe grande compaixão pelas almas perdidas. Deus o estava preparando para seu próximo trabalho. Seria um missionário do evangelho.

Ele leu a história da vida de David Brainerd, missionário aos índios norte americanos. Enquanto lia, sentiu vontade de gastar sua vida assim. Dizem que neste tempo ele nunca fazia uma oração sem implorar a Deus para deixá-lo ir ajudar os pagãos. Naquela tempo, 200 anos atrás, as igrejas na Inglaterra não enviavam missionários. De fato, ninguém parecia se importar que milhões de pessoas ainda não tinham ouvido que Jesus morreu na cruz para salvar os pecadores. Ele orava por estas pessoas perdidas.

Ninguém prestou atenção quando Carey disse que queria ser missionário. Um pastor lhe disse:

- Rapaz, quando agradar a Deus converter os pagãos, Ele o fará sem o seu auxílio.

Mas ele não desistiu pois sabia que Deus assim desejava. "Escreva um folheto mostrando a necessidade de missões. Eu pagarei a conta para publicá-lo." Ele resolveu que, se ninguém o ajudasse a ir ao campo missionário, ele deveria seguir e confiar em Deus para seu sustento. Agora ele pôde ver a razão dos longos anos de estudo. Todas as línguas aprendidas seriam necessárias para seu trabalho! Ninguém estava mais bem preparado para ser um missionário do que Carey.

Logo no começo sua esposa recusou-se a ir com ele. Ela nunca tinha visto o mar, e tinha tanto medo que preferia ficar em casa. Disse:

- Como posso deixar meus amigos, minha família e meu lar? Não vou!

Carey insistiu que Deus o tinha chamado para ser um missionário e, finalmente, Dorotéia consentiu acompanhar o seu marido.

Eles partiram para a Índia em 1793. Willian estava entusiasmado e alegre quando chegaram nas praias desta terra desconhecida. Era aqui que Deus queria que Ele pregasse o Evangelho. Numa carta à sua terra ele escreveu:

- Eu nunca me senti tão feliz.

Este pobre sapateiro, com amor às almas perdidas, tornou-se um dos maiores missionários batistas. Ele batizou o primeiro convertido numa terra onde agora há milhões de cristãos. Ele traduziu a Bíblia, ou partes da Bíblia em mais de uma dúzia de línguas. Ele é conhecido hoje como "o Pai das Missões Modernas".

O Filme

Ele navegou em 1793 para a Índia com sua esposa relutante e quatro filhos para compartilhar a Mensagem de Jesus. Lá ele enfrentou tantos sofrimentos que é incrível que ele não tenha abandonado seu chamado e voltado para casa. Mas, Carey continuou morando naquela escuridão por mais de 40 anos.

Ele foi chocado e atormentado ao ver as viuvas queimadas vivas num ato religioso Hindu chamado "sati". Enfrentando incontáveis oposições, ele continuou na batalha e teve influencia na abolição de "sati". Ele também ficou conhecido por ser "O Amigo da Índia" e "O Pai de Missões Modernas".

Carey ficou encarregado de traduzir mais versões da Bíblia do que haviam sido feitas durante a história do Cristianismo até ali. A vida nunca foi fácil, mas ele se recusou a desistir, mesmo quando um fogo devastador destruiu anos de seus trabalhos literários. A herança que ele deixou tem dado inspiração para muitos cristãos até os dias de hoje.

Uma vida dedicada a Deus e obediente à sua chamada pode fazer uma diferença profunda no mundo. Este filme demonstra isso de modo dramático.

Uma produção do Instituto de Historia do Cristianismo.
1998 • 97 minutos • dublado / VHS – NTSC
Comev Vídeos – www.comev.org.br